Vamos falar sobre Ficção Científica?


Segundo Bráulio Tavares em O que é ficção científica, a expressão Science fiction foi utilizada pelo editor da revista Amazing Stories, Hugo Gernsback, para definir a literatura que ele próprio incentivava. A repercussão em torno do termo foi tão grande, que o escritor Robert Heinlein, autor de Tropas Estelares, sugeriu a troca por “ficção especulativa”. O termo, porém, já tinha se cristalizado entre seus consumidores. A partir desse episódio, o Bráulio justifica que a presença de uma racionalização científica não é necessária para classificar uma obra como tal, conforme trecho abaixo:

Grande parte da fc está mais voltada para a magia do que para a ciência: todo o aparato tecnológico que a reveste não consegue disfarçar o caráter não-científico da maioria de suas visões. As coisas acontecem magicamente: aperta-se um botão e um personagem é desintegrado, ou é remetido para outra galáxia, ou vira planta.

Podemos entender que a explicação que Tavares propõe  que Star Wars – visivelmente uma aventura que se passa no espaço, em um futuro e galáxia “muito, muito distantes” – aproxima-se em classificação do filme Contato, baseado no romance do astrobiólogo e físico Carl Sagan.

Para a escolha dos livros, séries, filmes e quadrinhos abaixo, propõe-se que para ser Ficção Científica as narrativas tem explicações científicas ou pseudocientíficas fundamentais para o enredo da obra.

Primórdios » Frankenstein de Mary Shelley

Mary Shelley escreveu Frankenstein para uma competição entre amigos – idealizada por Lord Byron – em que todos deveriam criar histórias de fantasmas. No alto de seus dezenove anos, a autora cria a mais assustadora delas, sem poder imaginar o ícone ao qual estava dando a vida. Muitas foram as leituras e releituras feitas da obra, principalmente para o cinema, que teve sua primeira adaptação em 1910, feita pelo inventor e cientista Thomas Edison e a última em 2014, chamada Frankenstein: Entre homens e demônios, dirigida por Stuart Beattie e baseada graphic novel homônima I, Frankenstein, escrita por Kevin Grevioux.

Além do diálogo com o mito grego (marcado pelo subtítulo “Prometeu Moderno”), ao observar-se o contexto histórico, o romance traz outros temas. A estética principal do período era a romântica tendo essa um forte apelo em refutar a dominação da natureza pelo homem. Some-se a essa visão a Revolução Industrial inglesa, com suas máquina a vapor, e as experiências no campo da bioeletricidade que produzia um sentimento latente de “onde tudo isso irá nos levar”. Pronto, temos o monstro de Frankeinstein publicado vinte anos antes do nascimento de Julio Verne, considerado pai da Ficção Científica.

Robótica » Eu, Robô de Isaac Asimov

Mesmo não tendo sido o russo Isaac Asimov o criador do termo robô (utilizado pela primeira vez por Karel Capek em sua peça R.U.R. – Rossum’s Universal Robots – que deriva da palavra tcheca robota que pode ser traduzido como escravo) é inevitável não associar seu nome ao tema, possivelmente por culpa de uma das suas publicações mais famosas: Eu, Robô.

Publicado em Dezembro de 1950 Eu, Robô é uma coletânea de contos que tem como moldura a entrevista de Susan Calvin para a pesquisa de um jornalista sobre a sua vida profissional na US Robôs e Homens Mecânicos, lugar em que tornou-se robopsicóloga chefe. Grande parte dos nove contos tem como tema problematizações das Três Leis da Robótica que consistem em:

  • 1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal;
  • 2ª Lei: Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei e;
  • 3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.
Para Asimov, essas impediam o que chamava de Complexo de Frankenstein, isso é, medo dos humanos artificiais.

Viagem Espacial » Star Trek

O que confere o status de Ficção Científica a jornada da SS Enterprise? A premissa da série – “audaciosamente ir onde nenhum homem jamais esteve” – já nos dá uma pista: a velocidade de dobra.

O Warp Drive, ou velocidade de dobra, consiste em viajar através dos Wormholes (buracos de minhoca) que são, a grosso modo, atalhos no contínuo espaço-tempo (sistema de coordenadas utilizadas para estudo da relatividade restrita e relatividade geral). Ainda hipotéticos, eles encurtariam essas viagens, criando uma ponte entre a origem e o destino.

O resultado desta jornada são 30 temporadas com 725 episódios, alternando seus capitães entre Kirk, Jean-Luc Picard,  Kathryn Janeway, Benjamin Sisko e Jonathan Archer.


Steampunk » A Liga Extraordinária de Alan Moore

Steampunk é o termo usado para definir histórias que se passam no século XIX, mas que utilizam-se de certa tecnologia, muitas delas com base no grande invento da época, base da Revolução Industrial: máquinas à vapor.

Em A Liga Extraordinária de Alan Moore, Capion Bond elege Mina Murray – antes Mina Harker – para recrutar os “heróis” mais relevantes de seu tempo com o intuito de servir aos interesses do Império Britânico. Entre esses “heróis” estão Capitão Nemo, Allan Quartemain, Dr. Jekill e Hawlley Griffin.

Com grandes referências Literárias que vão além de suas personagens – se você ainda não ligou “o nome ao livro” deixe ajudar: Mina Murray persongem de Drácula, escrito por Bram Stoker; Capitão Nemo de As Vinte Mil Léguas Submarinas e A Ilha Misteriosa, escritos por Júlio Verne; Allan Quartemain de As Minas do Rei Salomão, escrita por H. Rider Haggard; Dr. Jekill de O Médico e o Monstro, escrito por Robert Louis Stevenson e Hawlley Griffin de O Homem Invisível, escrito por H.G. Wells – a história de Moore e a arte de Kevin O’Neill em seus dois primeiros volumes nos transportam para uma Inglaterra Vitoriana cheia de fumaça e engrenagens.

Distopia » 1984 de George Orwell

Muito antes de Jogos Vorazes, Convergente e Maze Runner veio 1984 de George Orwell. Não, ele não tem protagonistas adolescentes ou triângulos amorosos. Para o protagonista, Winston (vivido no cinema por John Hurt), tudo é apenas dor, amargura e nenhuma luz no fim do túnel.

Distopia é o termo que vem em contraponto a obra filosófica Utopia de Thomas More, que descrevia nela  a sociedade perfeita, como feito pelo grego Platão em A República.

Nas distopias literárias normalmente são apresentados mundos futuros em que a sociedade é reprimida por formas totalitárias de governo, que concentra poderes ilimitados. Em 1984 essa repressão vem de um aparelho parecido com um TV chamado teletela em que o partido, controlado pelo Grande Irmão (Big Brother), transmite imagens de propaganda 24 horas por dia, mas que também captura imagem daquele que as assistem.


Biotecnologia » Jurassic Park de Michael Crichton

O final dos anos 80 foi marcado por avanços nas pesquisas genéticas e em 1990 foi fundado o consórcio Projeto Genoma, presidido pelo chefe de saúde dos Estados Unidos James D. Watson que teve participação de 17 países, incluindo o Brasil. Possivelmente inspirado por esse ambiente o autor estadunidense Michael Crichton  – autor também de obras como Congo, Esfera, A linha do Tempo, O décimo Terceiro Guerreiro e roteirista da série de TV Plantão Médico (E.R.) – publicou em 1990 o livro Jurassic Park, que foi levado aos cinemas por Steven Spielberg.

Para quem ficou em uma caverna e nunca assistiu ao filme, a premissa é simples: A empresa InGen recria os dinossauros a partir de amostras de sangue – isto é, DNA – coletadas em mosquitos preservados desde o período jurássico em âmbar.

Claro que o livro tem trechos de ação, assim como no filme, mas a discussão vai além disso: é correto fabricar vida? Esses dinossauros são realmente dinossauros, uma vez que existe a manipulação de suas características?

Viagem no tempo » Doctor Who

Esta indicação poderia ser de A máquina do tempo de  H.G. Wells, mas acho que essa entraria no item Primórdios uma vez que foi a primeira vez que pensou-se em usar um aparato tecnológico para viajar no tempo. Também poderia ser De volta para o futuro, mas muita gente já falou de McFly e Cia. Na verdade, a ideia é falar o quanto seja possível de Doctor Who <3

Doctor Who é uma série televisiva britânica que alia história com ficção científica, utilizando-se de viagens no tempo. Sua estréia foi em 23 de Novembro de 1963 pela rede BBC e ficou no ar por 26 anos ininterruptos, tendo seu último episódio exibido em 1989. O programa volta a emissora em 2005, com estrondoso sucesso, não só na terra da rainha mas em todo mundo. Hoje está em sua décima temporada.


Super-heróis » Superman

Grande parte das histórias dos grandes heróis de quadrinhos  tem uma premissa científica ou pseudo-científica. Homem de Ferro (armadura tecnológica), Homem Aranha (alteração genética após picada de aranha radioativa, é pois é), X-Men (mutação genética do gen X, que desenvolve-se na puberdade)… Os exemplos são inúmeros e qualquer um desses poderiam ter sido escolhidos para essa indicação, mas, por que então, não começar pelo primeiro?

Superman (ou Super-Homem como falei a maior parte da minha vida) nasceu no conto The Reign of the Superman de Jerry Siegel em 1933, ilustrado por Joe Shuster. Na narrativa Bill Dunn, após entrar em contato com uma espécie de rocha alienígena, adquire super-poderes. As ilustrações trazem o que seria o embrião de Lex Luthor

A personagem foi remodulada e em 1938 na Action Comics nascia o que entendemos hoje como Superman. Características atribuídas a qualquer super-herói como a identidade secreta, os super-poderes, traje especial com símbolo e capa nascem Superman, nesta época conhecida como Era de Ouro.

Cyberpunk » Matrix

Uma história Cyberpunk é marcada pela alta tecnologia – normalmente o governo totalitário das distopias acabam dando lugar a grandes corporações – e baixa qualidade de vida. Em Matrix, quando os humanos estão com suas mentes fora do supercomputador criado para nos mantê-los felizes enquanto servem de pilhas para as máquinas, vestem roupas parecidas com sacos de estopa e comem um espécie de canjica do inferno.
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